Qual a abordagem terapêutica do profissional da saúde que atenderá o paciente com dengue, quais suas ações, qual o tratamento convencional? Será que “É possível tratar a dengue com auriculoterapia?”.
Para que eu saiba se a auriculoterapia é eficiente no tratamento de uma doença, posso pensar em como essa doença é tratada convencionalmente. A partir do momento que eu sei como se trata (método convencional), eu sei como a auriculoterapia também poderá tratar.
Se eu posso tratar um paciente com dengue, qual o impacto disso? Se eu atendo pessoas sendo um profissional da auriculoterapia, como posso ajudar essas pessoas? Quantas sessões vou precisar?
História da Dengue
- As primeiras referências foram feitas por David Bylon sobre um surto em Java, em 1779, e Benjamin Rush sobre uma epidemia na Filadélfia em 1780.
- Nos anos 1950, a febre hemorrágica da dengue foi reconhecida como uma forma nova e mais grave da doença.
- Albert Sabin isolou pela primeira vez o vírus da dengue: o tipo I na área do mediterrâneo durante a II Guerra Mundial, e o tipo II na região do Pacífico. Posteriormente, foram isolados os tipos III e IV.
- No início do século 20, o médico sanitarista Oswaldo Cruz combateu o Aedes aegypti, na época transmissor da febre amarela.
- Um século depois, o inseto voltou, agora trazendo a dengue, que se tornou um grave problema de saúde pública.
- A incidência de dengue tem crescido dramaticamente em todo o mundo nas últimas décadas
- O número de casos de dengue notificados pela OMS aumentou mais de 8 vezes nas últimas duas décadas. De 505.430 casos em 2000 para 5,2 milhões em 2019.
- OMS: são 50 milhões de contaminados por ano e destes, 500 mil são hospitalizados (90% crianças) e 24 mil morrem.
- 3 bilhões de pessoas vivem em condições de risco nos países onde a dengue é endêmica.
- A grande maioria dos casos é assintomático ou leve e autogerida e, portanto, os números reais de casos de dengue são subnotificados ou diagnosticados erroneamente como gripe.
- Entre 2000 e 2015 as mortes aumentaram de 960 para 4032, afetando principalmente a faixa etária mais jovem
Conceito
- A dengue ou febre quebra ossos, é uma doença febril aguda sistêmica de origem viral.
- Nos últimos 50 anos, o número de casos de dengue no mundo tem aumentado dramaticamente.
- Segundo notícia do site G1, o Brasil teve 542 mil casos de dengue até o dia 23 de abril (Ministério da Saúde). No ano passado inteiro, o Brasil somou 544 mil casos.
- A dengue afeta 128 países e estima-se que 4 bilhões de pessoas estejam vivendo em áreas de risco de infecção pela doença.
- O vírus da dengue afeta substancialmente regiões tropicais e subtropicais do mundo, com cerca de 400 milhões de infecções e 40 mil mortes a cada ano.
- A dengue não é contagiosa, mas se o mosquito picar alguém doente, o vírus irá se multiplicar em seu organismo e, quando ele picar uma pessoa sadia, a doença será transmitida.
Causa e transmissão
- O vírus pertence à família Flaviviridae, do gênero Flavivirus. O vírus da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.
- Os 4 tipos de vírus circulam no Brasil intercalando-se com a ocorrência de epidemias.
- Todos podem causar tanto a forma clássica da doença quanto a dengue hemorrágica. Contudo, o DENV-3 parece ser o que causa formas mais graves.
- A virulência é diretamente proporcional à intensidade com que o vírus se multiplica no corpo.
- O vírus é transmitido pela picada de mosquitos da espécie Aedes que também são responsáveis pela transmissão da chikungunya, febre amarela e Zika.
- O Aedes aegypti surgiu na África e espalhou-se para a Ásia e Américas com o comércio marítimo, acompanhando o homem em sua longa migração pelo mundo.
- No Brasil, chegou no período colonial com as embarcações que transportavam escravos, já que os ovos do mosquito podem resistir por até um ano, mesmo sem contato com a água.
Aedes aegypti
- É considerado o principal vetor da dengue, está bem adaptado aos habitats urbanos e se reproduz principalmente em recipientes artificiais (baldes, pneus, etc), tornando a dengue uma doença insidiosa em centros urbanos densamente povoados.
- É um alimentador diurno; seus períodos de pico de picada são no início da manhã e à noite antes do pôr do sol.
- Os ovos podem permanecer viáveis por vários meses em condições secas e eclodirão quando estiverem em contato com a água.
Aedes albopictus
É um vetor secundário da dengue, se espalhou para mais de 32 estados nos EUA, e mais de 25 países na Europa, em grande parte devido ao comércio internacional de pneus usados.
Formas da dengue
A grande maioria das infecções é assintomática. Quando surgem, os sintomas costumam evoluir em obediência a 3 formas clínicas:
Dengue clássica: similar à gripe;
Dengue com sinais de alarme: mais grave, caracterizada por alterações da coagulação sanguínea;
Dengue grave: raríssima, mas pode levar à morte se não houver atendimento rápido e especializado.
Dengue clássica – Sintomas
- 99% das pessoas infectadas têm febre (com início súbito);
- 50% sente dor de cabeça severa e dor de fundo de olho;
- Dores musculares e articulares;
- Cansaço e dor no corpo;
- Náusea e vômito;
- Diarréia;
- Glândulas inchadas
- Irritação na pele
Em um período de 3 a 7 dias, a temperatura começa a cair e os sintomas geralmente regridem, mas pode persistir um quadro de prostração e fraqueza durante algumas semanas.
Nas crianças, o sintoma inicial é a febre alta acompanhada de:
- Apatia
- Sonolência
Recusa de alimentação - Vômitos e diarreia
Dengue com sinais de alarme – Sintomas
- As manifestações iniciais da dengue com sinais de alarme – as mesmas da fase febril da doença.
- Depois do terceiro dia a febre começa a ceder, aparecem:
- Sinais de hemorragia, como sangramento nasal, gengival e vaginal;
- Rompimento dos vasos superficiais da pele (petéquias e hematomas)
- Sinais de alarme são resultantes do aumento da permeabilidade vascular, que marca o início do deterioramento clínico do paciente e uma possível evolução para o choque por extravasamento de plasma.
- Em casos mais raros, também podem ocorrer sangramentos no aparelho digestivo e nas vias urinárias.
Dengue grave – Sintomas
- Normalmente de 3-7 dias após o início da doença;
- É uma doença potencialmente fatal, devido ao vazamento de plasma, acúmulo de líquido, desconforto respiratório, sangramento grave ou comprometimento de órgãos.
- Alterações neurológicas (delírio, sonolência, depressão, coma, irritabilidade extrema, psicose, demência, amnésia), que surgem no final do período febril ou na convalescença;
- Dor abdominal intensa;
- Vômito persistente;
- Respiração rápida;
- Sangramento nas gengivas e nariz;
- Fadiga;
- Inquietação;
- Aumento do fígado
Novos contágios
- Uma infecção curada de dengue confere ao paciente imunidade apenas contra aquele específico de vírus;
- São 4 tipos diferentes de vírus. Para estar totalmente imunizado é necessário ter tido contato com todos eles;
- E a cada contágio com um novo tipo de vírus, os sintomas são mais intensos e aumenta o risco de desenvolver a dengue grave
Formas de transmissão
Transmissão por picada de mosquito:
- O vírus é transmitido aos seres humanos através da picada de mosquitos fêmeas infectados, principalmente o Aedes aegypti.
- Depois de se alimentar de uma pessoa infectada o vírus se replica no intestino do mosquito, se dissemina para os tecidos secundários, incluindo as glândulas salivares.
- Uma vez infeccioso, o mosquito é capaz de transmitir o vírus pelo resto da sua vida.
Transmissão humano-mosquito
- Os mosquitos podem ser infectados por pessoas contaminadas
- A transmissão de humano para mosquito pode ocorrer até 2 dias antes de alguém apresentar sintomas da doença, até 2 dias após a febre ter desaparecido.
- A maioria das pessoas é virêmica por cerca de 4-5 dias, mas a viremia pode durar até 12 dias.
Transmissão materna
- O principal modo de transmissão entre humanos envolve mosquitos vetores.
- Há evidências, no entanto, da possibilidade de transmissão de uma mãe grávida para o seu bebê
- Quando uma mãe é contaminada quando está grávida, o bebê pode sofrer de parto prematuro, baixo peso ao nascer e sofrimento fetal.
Outros modos de transmissão:
Raros casos de transmissão via hemoderivados, doação de órgãos e transfusões foram registrados.
O ciclo da dengue no organismo
- Após a picada do mosquito o vírus da dengue penetra na corrente sanguínea
- Na incubação (4 a 7 dias) há uma replicação viral no fígado, baço e tecidos linfáticos
- A pessoa está infectada, mas não transmite a doença se for picada pelo vetor
- Incubado, o vírus retorna à corrente sanguínea – viremia (presença de partículas virais no sangue)
- Surge a febre – organismo tentando combater o vírus
- Nesse estágio mesmo que não apresente sintomas, o indivíduo pode transmitir a doença se for picado
- O vírus ataca o sistema imunológico diminuindo os glóbulos brancos
- O vírus continua a se multiplicar dentro das células sanguíneas e atinge a medula óssea
- Na medula ele compromete a produção de plaquetas que atuam no processo de coagulação
- Em casos raros, o vírus ataca o coração, o fígado ou o sistema nervoso
- Os vasos sanguíneos ficam porosos, com perda de proteína e água do sangue
Sequelas e complicações mais graves da dengue
Problemas neurológicos
Algumas das complicações que surgem quando o vírus da dengue atinge o cérebro são:
- Encefalopatia
- Encefalite
- Meningite
- Mielite (inflamação na medula espinhal)
Síndrome de Guillain-Barré (inflamação que afeta os nervos e resulta em fraqueza e paralisia muscular)
Quando o vírus da dengue acomete o SNC podem surgir sintomas como: sonolência, tontura, irritabilidade, depressão, convulsões, amnésia, psicose, falta de coordenação motora, perda de força de um dos lados do corpo, nos braços ou pernas, delírio ou paralisias.
Problemas cardíacos e respiratórios
A dengue também pode levar ao derrame pleural, quando atinge os pulmões, ou miocardite, inflamação do músculo do coração.
Quando existem problemas respiratórios ou cardíacos, alguns dos sintomas que podem ser sentidos incluem:
- Falta de ar;
- Dificuldade em respirar;
- Mãos e pés frios e com cor azulada;
- Dor no peito;
- Tosse seca;
- Dores musculares;
- Tonturas.
Forma de diagnóstico
Sorologia para dengue: os anticorpos IgM podem ser detectados a partir do 6º dia após o início dos sintomas. No entanto, se não for a primeira vez que o paciente contraiu a doença, o teste pode ser realizado a partir do 3º dia.
Já os anticorpos IgG podem ser detectados a partir do 9º dia.
Tratamento convencional
Não existe tratamento específico, mas o atendimento rápido para a identificação dos sinais de alarme e o tratamento oportuno podem reduzir o número de óbitos.
Os cuidados terapêuticos consistem em tratar os sintomas:
- Combater a febre
- Tomar muito líquido para evitar desidratação
- Uso de analgésicos
Prevenção e vacina
Principal forma de prevenção: combate ao mosquito e saneamento básico.
Onde tem água parada, pode ter dengue
- Em 2015 foi registrada a primeira vacina contra a dengue para indivíduos vivendo em áreas endêmicas ou de risco.
- A vacina francesa DENGVAXIA é indicada para os 4 vírus da dengue e foi liberada pela ANVISA em 3 doses com intervalo de 6 meses.
- Não tem no SUS
- As vacinas têm mostrado efetividade entre 50% e 80% dependendo do tipo de vírus, do tipo de indivíduo vacinado.
A OMS recomenda a vacina apenas em zonas geográficas com alto índice da doença.
Lockdown da COVID-19 e aumento dos casos de dengue – Sindemia global
O que significa sindemia global? Conceito do médico americano Merril Singer
A ação conjunta de duas ou mais doenças ou problemas socioeconômicos que exercem uma influência mútua em sua carga para a sociedade e geram uma piora generalizada da situação de uma população.
- Covid-19 + aumento da pobreza + aumento da violência doméstica
- Covid-19 + dengue na América Latina e Ásia
- Covid-19 + malária na África
- Obesidade + desnutrição + mudanças climáticas
- HIV + aumento da violência nos EUA
Durante a pandemia diversos estudos foram realizados para avaliar o impacto do lockdown em várias áreas como: economia, psicologia, política, desemprego, pobreza, etc.
Dentre elas, os cientistas pesquisaram como essa interrupção sem precedentes na vida cotidiana em todo o mundo afetou a dinâmica de transmissão de uma ampla gama de doenças infecciosas que são altamente dependentes das taxas de contato entre humanos.
Alerta sobre o risco da automedicação
Pacientes com dengue ou suspeita da doença não podem usar medicamentos que possam interferir no processo de coagulação do sangue, como:
- Antitérmicos que contenham ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina, Melhoral)
Medicamentos derivados de ácido acetilsalicílico ou sigla AAS são anticoagulantes, inibem a agregação plaquetária e prolongam o tempo de sangramento, aumentando o risco de hemorragias.
- Anti-inflamatórios (voltaren, diclofenaco de sódio, Scaflan, indometacina, naproxen, ibuprofeno)
Anti-inflamatórios não hormonais (ou não esteroidais) são contraindicados, pois também elevam o risco de sangramentos, tanto que alguns deles são suspensos antes de cirurgias médicas, e até para extração dentária porque podem aumentar a tendência hemorrágica na dengue.
Tomados em excesso, analgésicos e anti-inflamatórios podem trazer prejuízo
saúde.
Medicamentos anticoagulantes com a ação do vírus desencadeia sangramentos internos, isso agrava o quadro clínico podendo aumentar a probabilidade de hemorragias internas.
Você tem um diferencial tratando com auriculoterapia
As pessoas fazem uso de medicamentos para aliviar a dor e a febre, sem saber que estão colocando em risco a própria vida ou a vida de um familiar.
Imagine a situação de pessoas que fazem uso regular de anti-inflamatórios!
Primeiro passo é fazer uma boa anamnese com o paciente, porque saberei os sintomas e começarei a pensar no protocolo.
Dor excessiva
Se eu tenho um caso de dor simples, aplicarei o ponto da analgesia. No caso da dengue, é uma dor em excesso, então posso colocar o ponto tálamo, que vai em um nível mais alto do que a analgesia.
Dor muscular
Se o paciente tem dor muscular, coloco o ponto de relaxamento muscular.
Febre alta
Se o paciente está com febre alta, posso pensar em pontos para baixar a febre, como os pontos termorregulador e ápice da orelha. O ponto da pele é interessante também, porque ali estão as glândulas sudoríparas. Ponto do hipotálamo também é interessante por ser um termostato natural. Não colocarei todos, pois precisarei ver a reação dele antes.
Plaquetas
Para as plaquetas, poderei usar o ponto do baço
Ânsia/náusea
Se o paciente está apenas enjoado, o ponto do estômago pode resolver.
Se o paciente está vomitando, posso usar o ponto cárdia.
Fadiga/Cansaço/Desânimo
- Para esses sintomas, podemos colocar o ponto da alegria, pois esse ponto traz mais disposição ao paciente.
Irritação na pele
O ponto da pele deve ser escolhido nesse caso. Posso associar também um ponto anti-inflamatório.
Sono
O paciente pode estar cansado, desanimado e fatigado por não estar dormindo bem. Sendo assim, o ponto do sono poderá ajudar nesses sintomas. Perguntar sempre na anamnese se o paciente está dormindo bem.
Reação ao medicamento
Para reações ao medicamento, penso em pontos que desintoxicam como baço, fígado e intestino grosso
Imunidade
Ponto da imunidade não pode faltar!
Lembrando que um ponto poderá ajudar mais de um sintoma. Por exemplo, se o paciente está com a pele irritada e com febre, o próprio ponto da pele poderá ajudar nos dois sintomas.
Se eu conheço a doença, eu sei como tratar esse paciente. Faço um paralelo com a auriculoterapia neurofisiológica.
Não usar illib!!
Quando lidamos com vírus é necessário aumentar a imunidade desse paciente.
Como falado anteriormente, o quadro pode durar semanas, então é necessário programar várias sessões para o paciente.
Referências
CRUZ, Instituto Oswaldo. Disponível em: https://www.ioc.fiocruz.br/dengue/
G1, Site de notícias. Disponível em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2022/05/02/com-surto-em-alta-brasil-tem-em-4-meses-quase-o-mesmo-total-de-casos-de-dengue-registrado-no-ano-passado.ghtml
KONDO, Mario. Disponível em: https://hospitalsiriolibanes.org.br/blog/gastroenterologia/tomados-em-excesso-analgesicos-e-anti-inflamatorios-podem-trazer-prejuizo-a-saude
LUNETAS. Disponível em: https://lunetas.com.br/sindemia-global/
ORGANIZATION, World Health. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dengue-and-severe-dengue
PUBMED. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34370734/
SAÚDE, Ministério da. disponível em: http://www.ccs.saude.gov.br/peste-branca/dg-virus.php
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