Pacientes com queixas de dor não vão faltar. Isso é um fato. Por isso, hoje vamos falar do assunto “Entendendo a dor do seu paciente”.
Você sabia que a dor crônica afeta, somente no Brasil, 60 milhões de pessoas.
Por isso digo que não existe concorrência.
A questão que precisamos ter atenção é: sabemos tratar a dor dos nossos pacientes?
Algumas pessoas acreditam que usar um mapa ou conhecer alguns pontos é o suficiente para aplicar a auriculoterapia.
Conceito de dor
É comum achar que dor é uma lesão tecidual, física. Ex: quebrei um braço, tenho dor.
Mas nem sempre é assim, tão visível e tão fácil.
O conceito da IASP – Associação Internacional para o Estudo da Dor – é mais amplo: dor é “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a dano tecidual real ou potencial”
Quer dizer que, às vezes, eu não tenho um corte, uma fratura, mas eu tenho dor.
É o caso da fibromialgia, dor do membro fantasma, neuralgia trigeminal, enxaqueca e até a dor do luto. Não há exames que detectem, são experiências vividas pelos pacientes.
A dor é o principal motivo de idas aos consultórios no mundo.
A dor AGUDA é uma reação rápida do organismo após uma queda, batida ou corte, e serve como um alerta, um sinal de que algo está errado e houve lesão.
Segundo a literatura médica, uma dor é considerada CRÔNICA quando sua duração é superior a três meses. Ainda é considerada crônica a dor que surge de maneira intermitente ou regular por longos períodos.
Quanto ao tratamento, é mais fácil tratar uma dor aguda porque a resposta do organismo é mais rápida. Ainda não houve uma neuroplasticidade cerebral que acostumou meu cérebro a uma resposta mais imediata. Na dor crônica, eu tenho uma informação cerebral diferenciada, vou demorar mais para tratar, ela já está instalada.
A percepção da dor tem início na periferia, com ativação de nociceptores (receptor sensorial da dor), que estão presentes em todo organismo.
Depois de ativar os nociceptores o estímulo doloroso é conduzido para a medula espinal.
Os nociceptores fazem sinapses com neurônios da medula espinal, que por sua vez fazem sinapses com neurônios no cérebro, completando a condução nociceptiva.
Na questão da dor existem alguns conceitos me merecem destaque*:
- Limiar da dor: é o momento em que um estímulo passa a ser reconhecido como doloroso, variando de indivíduo para indivíduo.
- Limiar de tolerância: é definido como o ponto em que o estímulo doloroso alcança tal intensidade que não pode mais ser suportado pelo indivíduo.
- Resistência à dor: é a diferença entre dois limiares e demonstra a amplitude de uma estimulação dolorosa à qual o indivíduo possa considerar aceitável.
Quando falamos em dor do paciente, temos que ir além da queixa principal, isso porque a dor difere de uma pessoa para outra. Sempre que for metrificar a dor deve-se comparar com ele mesmo e não com outro paciente, comparando a dor inicial com a dor do momento. Como está a dor do momento comparada com as outras dores que o paciente já sentiu. De 0 a 10, sendo 10 a pior dor que já sentiu.
Como avaliar a queixa do paciente?
Vou trazer a dor de cabeça como um exemplo. Quero trazer um conceito que é o seguinte: não existe um protocolo único. Por que? Ex. Qual protocolo para a dor de cabeça? Aí eu pergunto: Qual é a causa da sua dor de cabeça? Que tipo de dor de cabeça você está sentindo? Tempo, tolerância, tudo isso interfere na seleção de pontos que você vai escolher.
Vai depender de cada paciente. Você não pode tratar todos os pacientes da mesma forma. Se você deseja tratar da saúde de pacientes terá que adquirir conhecimentos para tratar de maneira eficaz.
5 possíveis causas para a dor de cabeça
E nos casos em que você não tem resultados? Aí você se pergunta: o que está aconteceu? Será que não estou fazendo a localização correta? Será que o paciente mentiu? Será que essa técnica não funciona?
E aqui preciso destacar a importância de ter uma estratégia, um caminho a ser seguido, e que essa estratégia não pode ser igual para todos os pacientes.
Para você ter uma noção, quero apresentar 5 possíveis causas para a dor de cabeça que podem modificar completamente a sua estratégia. E para isso você precisa identificar essas questões na anamnese. Vamos aos exemplos:
1) Fibromialgia
A fibromialgia também é sentida de forma diferente em cada paciente. Não se pode dizer “faça esses pontos para fibromialgia que dará certo”. Uma paciente pode ter dores de cabeça e o outro não, mas pode ser uma das queixas.
Essa síndrome se manifesta com dor no corpo todo, e o paciente apresenta grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura.
Além da dor o paciente sofre com a fadiga, distúrbios do sono, problemas de memória e atenção, ansiedade, depressão e problemas intestinais.
As estatísticas apontam que a cada 10 pacientes com fibromialgia, entre sete e nove são mulheres e a doença é detectada em pessoas entre 30 e 60 anos.
2) Dores de cabeça do pós Covid-19
As dores de cabeça são sintomas bastante frequentes nos diagnósticos de COVID-19 e uma das principais sequelas do pós COVID-19.
Em geral as dores se configuram como:
- Bilateral (na maioria dos casos)
- Intensidade: moderada a forte
- Pulsátil ou em pressão
3) Neuralgia do Trigêmeo
O nervo trigêmeo é um dos 12 pares de nervos que inervam a face e a cabeça.
Ele exerce funções de controlar a musculatura da mastigação e a sensibilidade facial, já que possui três ramos: oftálmico, mandibular e maxilar e a compressão na raiz nervosa provoca crises agudas de dor.
Essa dor costuma ser do tipo choque elétrico e pode durar, em ataques que costumam ser recorrentes.
Gatilhos da crise: toques na face, mastigar, falar, escovar os dentes, sorrir e até o vento frio no rosto.
4) Síndrome do intestino irritável
É o distúrbio gastrointestinal crônico mais comum em todo o mundo, causa dor, desconforto abdominal, diarreia, constipação ou todos ao mesmo tempo.
Além disso, está relacionado com casos de enxaqueca.
A síndrome do intestino irritável apresenta diarreia é algo que incomoda, mas quando você pensa que a cefaleia pode vir por conta do intestino estar irritado?
5) Cefaleia por uso excessivo de analgésicos
Terceira causa de dor de cabeça mais comum depois da enxaqueca e cefaleia tensional.
Pode ocorrer mesmo se o paciente estiver tomando a dosagem recomendada.
É mais comum entre mulheres entre 30 e 40 anos.
A abordagem para um paciente com cefaleia por uso excessivo de analgésicos é diferente, pois o corpo está intoxicado e precisamos pensar em pontos que realizem essa desintoxicação.
Muitas pessoas não sabem que existem mais de 150 tipos de cefaleia, e cada uma possui uma peculiaridade, requer uma atenção especial e um conhecimento específico.
Percebe como a dor pode ir além do que imaginamos?
A anamnese é fundamental para encontrar a origem dessa dor.
Você precisa montar esse quebra-cabeça e desvendar um enigma de acordo com o que o paciente for contando.
Claro que podemos usar os pontos básicos. Por exemplo, se falo em dor de cabeça, o ponto da analgesia não pode faltar.
Agora, quando eu penso que a dor do meu paciente está vindo, por exemplo, de uma síndrome do intestino irritável, apenas colocar o ponto da analgesia não vai resolver se não atacar a causa do problema.
Você tem que ir além. Para cuidar da saúde de alguém você precisa se capacitar cada vez mais e para isso precisa estudar.
Os protocolos ajudam? Sim, principalmente para quem está no começo, mas sempre lembrando que preciso ter em mente as características peculiares de cada paciente e as informações que ele me passar.
Analgesia é um ponto que não pode faltar, mas no meu paciente, por exemplo, que tem a queixa de fibromialgia eu tenho que lembrar que ele tem dores musculares e que relaxamento muscular é muito importante nesse aspecto.
Para o paciente com síndrome pós-COVID é muito importante lembrar que, às vezes, a dor de cabeça pode estar relacionada com a imunidade.
Neuralgia Trigeminal é uma dor neuropática, dores neuropáticas não vão passar com um simples analgésico. É uma das piores dores que o ser humano pode sentir. Ao chegar no neurologista, ele não vai receitar um paracetamol para o paciente. Uma dor dessa não passará com paracetamol. Então eu faço a correlação com a auriculoterapia, não vai passar com analgesia, eu tenho que ter mais pontos que me deem recurso para a analgesia.
Síndrome do intestino irritável, eu tenho que trabalhar essa causa e pensaria no intestino, vago e claro, problemas emocionais.
Cefaleia por uso de analgésicos preciso pensar em analgesia na auriculoterapia, vou colocar anti-inflamatórios também, mas se eu sei que é o uso de analgésicos que está causando essa dor, tenho que desintoxicar esse paciente.
Você percebe como eu tenho que pensar a auriculoterapia? Eu posso sim fazer pontos mas tenho que conhecer os pontos.
Sabemos que a dor leva ao aumento no consumo de medicamentos.
Além disso uma pesquisa recente apontou que 77% dos brasileiros têm o hábito de se automedicar (reportagem: encurtador.com.br/bdDW1)
Muitas pessoas se automedicam sem pensar nos efeitos colaterais dos analgésicos:
- Constipação
- Tontura e sonolência
- Dor de cabeça
- Boca seca
- Erupção cutânea ou coceira na pele
- Zumbido
- Vício ou dependência
- Sangramento do estômago
- Danos ao fígado
- Hipotensão/ pressão arterial baixa;
- Náusea/ vômito
O paciente pode chegar solicitando o tratamento desses sintomas e na verdade eles têm origem no uso de analgésicos.
A importância da localização dos pontos e confecção de protocolos individualizados
Você pode fazer uma anamnese maravilhosa para o seu paciente, mas se você não souber localizar pontos, se não souber fechar esse raciocínio dos pontos com a confecção de um protocolo individualizado para o seu paciente, você não vai ter resultado.
A auriculoterapia tem alguns pilares: a localização de pontos e o raciocínio por meio da técnica, fazendo o encaixe da anamnese com a localização.
* https://www.infoescola.com/sistema-nervoso/dor/
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